Em tempos de crises econômicas, os traders enfrentam uma série de incertezas sobre como conduzir suas operações e obter lucros. Nesses momentos, deve-se dar atenção aos pares de moedas ou seria mais prudente investir correr para investir em ativos de proteção, como o ouro ou bitcoin? Quais estratégias de negociação adotar?

Antes de responder a essas indagações, vale ressaltar que, enquanto a bolsa de valores pode estar experimentando certa estagnação, os pares de moedas no mercado forex continuam a ser negociados constantemente com liquidez e volatilidade, de forma que, mesmo em tempos de crise, frequentemente seguem tendências, sejam ascendentes ou descendentes. No entanto, até essa regra possui exceções.

Dito isso, vale ressaltar também que negociar nestes momentos de crise, especialmente em um mercado volátil, naturalmente implica em riscos aumentados, tema que também abordaremos mais adiante ao longo do artigo. Mas, primeiro, examinaremos alguns exemplos de como as crises podem influenciar nos preços das moedas para entender como podemos aproveitar a conjuntura a nosso favor nas negociações.

Crises: exemplos e como afetam as negociações

Podemos ver uma crise surgindo em escala global, como foi o recente caso da pandemia de COVID-19, como também crises em escalas local, como desastres naturais decorrentes de tsunamis, furações, vulcões, incêndios como o que vemos recentemente no Havaí, etc. Eventos desse tipo causam danos enormes à infraestrutura e às moradias das pessoas, interrompendo o abastecimento de mercadorias, paralisando os transportes e a produção. Isso faz com que, via de regra, o país afetado fique impossibilitado de produzir e exportar mercadorias, pois direciona todos os recursos disponíveis para se reerguer dos prejuízos.

Por consequência, na maioria dos casos, a moeda nacional desse país começa a se desvalorizar, o que abre uma boa oportunidade para negociar pares de moedas que envolvam essa determinada moeda. No entanto, prever o início e o fim dessa desvalorização é uma tarefa extremamente desafiadora. Até porque, ao contrário do que pensa o senso comum, a moeda pode até mesmo não reagir aos impactos do desastre natural.

Vejamos o exemplo dos pares GBP/USD e AUD/USD durante as inundações na Austrália e na Grã-Bretanha em junho e março de 2012 respectivamente. Enquanto, por um lado, a libra permaneceu estável, por outro, o dólar australiano sofreu uma queda intensa.

(Gráfico do par AUD/USD durante as inundações: março de 2012)

(Gráfico do par BGP/USD durante as inundações: junho de 2012)

Em suma, os movimentos das moedas nacionais dependem da proporção do desastre e da capacidade do país de lidar com as consequências, e nem sempre podemos avaliar completamente esses fatores. Assim, pode parecer que em tais circunstâncias, a única estratégia mais confiável seja o “scalp” ou a negociação “intraday”. No entanto, às vezes em casos de crises, o mercado permite negociar a médio e longo prazo. No final, tudo depende da habilidade do trader de avaliar corretamente a situação macroeconômica.

Como exemplo, considere a crise da dívida na Europa em 2009-2010. O gatilho foi a crise econômica na Grécia, e o pânico do mercado derrubou a moeda comum europeia. Naquela época, o euro perdeu mais de 21% de seu valor.

(Gráfico do par EUR/USD com a crise da dívida europeia: 2009)

Caso um trader mais experiente tenha analisado profundamente a situação à época, pode ter usado uma estratégia de longo prazo baseada na queda do EUR/USD, mas isso teria sido um trabalho difícil de fazer. Portanto, para trabalhar a médio e longo prazo durante crises, é necessário ter excelentes habilidades analíticas e ótima capacidade de prever o comportamento do mercado.

Investimentos em ativos de proteção: bitcoin e ouro

É consenso e notoriamente sabido que, durante crises, investir em metais preciosos é uma das maneiras mais seguras e razoáveis de manter seu dinheiro seguro. Aqui, eu acrescentaria também o bitcoin, mostrando-se cada vez mais sólido para esse propósito. Não à toa, no início deste ano, com a onda de colapsos bancários nos Estados Unidos, vimos os investidores correndo para ativos com forte apelo monetário e características de reserva patrimonial, fazendo o BTC explodir.

(Gráfico do Bitcoin durante a crise bancária no início deste ano: 2023)

Já no caso do ouro, muito mais consolidado, não precisamos nem falar. A confirmação desse caráter protetivo se deu ao longo de toda a história, e o exemplo mais recente aconteceu com o aumento das cotações da referida commodity, que atingiu a marca de mais de 2.000 USD por onça troy em agosto de 2020, durante a pandemia de COVID-19.

(Gráfico do ouro – XAU/USD - durante a segunda onda da pandemia de covid19)

Qual estratégia escolher em uma crise?

Em crises, muitas estratégias nos dão sinais falsos, fazendo com que muitos traders tenham seus Stop Loss ativados, motivo pelo qual reforçamos mais uma vez que negociar nestes momentos acarreta em riscos aumentados. Nesse caso, esses traders tendem a escolher várias estratégias de “scalp” que se adequem a seus perfis, ainda que pessoalmente eu considere o “scalp” como a mais difícil modalidade dentre os tipos de negociação. Isso porque, quanto mais curto o tempo gráfico, maior a maré a que estamos nos expondo.

Por isso, para operar “scalp”, é necessário um preparo sério e muita habilidade em tomar decisões rápidas e acertadas. Os iniciantes que esperam por dinheiro rápido e ignoram os riscos esquecem que, na prática, uma posição perdedora deixada em aberto e sem preparação e atenção pode fazer você perder seu capital da noite para o dia.

Já com estratégias bem utilizadas, estratégias de curto prazo podem produzir bons resultados. Assim, para um scalper, crises econômicas e políticas, sua duração e intensidade são irrelevantes. Aliás, pelo contrário: a liquidez e a volatilidade aumentadas permitem atingir o objetivo mais rapidamente.

Avaliando riscos, ou o que você não deve fazer

Seria imprudente terminar este artigo sem mencionar alguns riscos envolvidos na negociação durante estas crises. Lembre-se de que a gestão de riscos torna sua negociação mais fácil e mantém seus nervos mais controlados, sendo uma parte essencial para a manutenção do seu capital, não importando se você tem 50 USD ou um milhão. Certamente você não quer perder isso, e é crucial entrar com estratégias bem definidas e mecanismos protetivos para, antes de pensar em ganhar, pensar em não perder muito.

Ficar alternando constantemente entre estratégias de negociação e também testar novas estratégias em contas reais, sem dúvida, são péssimas ideias não apenas em crises, mas também em condições normais. Já diversificar os riscos negociando vários pares de moedas e metais é, pelo contrário, uma boa maneira de proteger seu dinheiro de várias situações arriscadas. Temos um artigo aqui sobre isso.

Além disso, em crises, os iniciantes no mercado costumam tentar encontrar novos instrumentos na esperança de algum lucro rápido. No entanto, o mercado é imprevisível e os traders acabam não obtendo nada além de experiências negativas. Portanto, pare de tentar estudar novas moedas "rapidamente" e opte por aquelas com as quais você está bem familiarizado. Os pares clássicos, tidos como os principais, o ajudarão a diminuir os riscos.

Além disso, analistas e especialistas em Forex há muito tempo chegaram à conclusão de que o preço segue ciclos. As cotações reagem às crises financeiras por cenários semelhantes. No entanto, cada situação, especialmente quando é causada pela natureza, é única, então tenha isso em mente ao planejar sua negociação em crises.

Sempre há riscos no mercado, tanto quando as coisas vão bem quanto quando vão mal. Analise a situação detalhadamente, verifique as notícias e siga suas regras de gestão de risco como foco principal, e assim você tomará decisões de negociação corretas com mais assertividade, menos estresse e mais consciência tranquila.